segunda-feira, agosto 29, 2005

...

A pessoa que devia gostar de mim me vê como o ser mais ínfimo, mesquinho...
Por quê??? :'(

-*-

As estrelas são pequenos, ínfimos e solitários pontos brilhantes no céu escuro...
Este é seu destino...
Talvez nem elas nem quem as vê deva ousar tentar mudar isso.
A solidão é sua sina...


terça-feira, agosto 23, 2005

Como manter um amor

Uma mãe e a sua filha estavam a caminhar pela praia. Num certo ponto, a menina disse:

"Como se faz para manter um amor?"

A mãe olhou para a filha e respondeu:

"Pega num pouco de areia e fecha a mão com força..."

A menina assim fez e reparou que quanto mais forte apertava a areia com a mão com mais velocidade a areia se escapava.

"Mamãe, mas assim a areia cai!"

"Eu sei, agora abre completamente a mão..."

A menina assim fez, mas veio um vento forte e levou consigo a areia que restava na sua mão.

"Assim também não consigo mantê-la na minha mão!"

A mãe, sempre a sorrir disse-lhe:

"Agora pega outra vez num pouco de areia e mantenha na mão semi-aberta como se fosse uma colher... bastante fechada para protegê-la e bastante aberta para lhe dar liberdade"

A menina experimenta e vê que a areia não se escapa da mão e está protegida do vento.

"É assim que se faz durar um amor..."

(Autoria desconhecida)

domingo, agosto 21, 2005

segunda-feira, agosto 15, 2005

O Casal Dicionário (Claudia Letti)

Não se sabe quem começou a brincadeira. Talvez tenha sido ela, mas como nesse tabuleiro não dá pra movimentar as peças sem contar com a sensibilidade do parceiro, ela costumava dar-lhe todos os créditos. A brincadeira consistia em dar nome aos atos e sensações como se fossem coisas, sempre na tentativa de superar o outro em sagacidade, provocar reações e instigar palavras mais adequadas, pra não dizer sedutoras.

Assim, um abraço nunca era apenas um enlaçar de braços, um encostar de corpos, mas um ato que se comprometia com o assunto que estavam trocando. Quando falavam de viagens, por exemplo, o abraço vinha assinado como "turístico" e na palavra passeavam todos os caminhos que aqueles braços queriam percorrer, todos os países que seria possível imaginar e todas as culturas que poderiam conhecer: abraços gregos, turcos, indianos. Abraços internacionais. Abraços tridimensionais.

Os beijos então, não eram simplesmente lábios tocando outros lábios, mas tinham sabor, cor, espessura e eram suculentos em significados. O assunto poderia ser qualquer um, como a necessidade de fazer a feira, por exemplo, e lá vinha o beijo assinado no frescor de uma alface ou na eroticidade vermelha dos morangos. Neste quesito em especial, o tempo era o passatempo preferido. Um beijo molhado era um beijo com chuva. O iluminado era o beijo de sol. O selinho era tempo nublado — talvez identificando alguma rusga que nunca os consumia o suficiente pra deixar que os beijos perdessem seus sabores, cada dia e cada vez mais concentrados — como os sucos.

Esse era um jogo que não tinha regras muito definidas e sequer perseguia um vencedor. Como se vê era uma brincadeira de aprisionar os atos em sensações descritíveis mas nem sempre decifráveis pra quem tentava entender o que acontecia com eles sem conhecê-los direito. Eles brincavam sempre como se tivessem pequenos dicionários amorosos a lhes ditar palavras que pudessem alcançar o outro em essência e dimensão.

Até o dia em que cansaram de jogar "conversa dentro" e foram tratar de viver a vida que tinham planejado juntos. Elas, as palavras, pareciam ser menos necessárias então, e foram sendo consumidas uma a uma, transformando-se em olhares intensos, madrugadas silenciosas e dias atentos.

E muito tempo depois, quando o filho, ainda pequeno, perguntou-lhes o que era um dicionário, ela respondeu — não sem uma ponta de nostalgia — que dicionário também significava uma história de amor.

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Saudades...
Já foi postado, mas por estar próximo ao meu estado de espírito hoje apresento-o novamente...

Rio descoberto (Oswaldo Montenegro/Raimundo Costa)

Quanto o sol mais se esconde
Aonde eu te perdi
Tenho as asas de sonho
De indefeso passarinho

Joga a primeira pedra
Pousa os olhos em mim
Sou como um rio descoberto
Só de saudade de ti

Céu das cidades satélites
Luzes que enxergo daqui
Guia do instante em que estou eu só
E que me entrego pra ti

Diz onde é que eu te encontro
Que eu não tenho onde ir
Tô cansado de abandono
Quero um colo pra dormir

Alma de Palhaço (Silvia Giovatto)

Abrem-se as cortinas, atenção!
Vai começar o espetáculo...
Lá vem o palhaço!
fazendo palhaçada, dando piruetas
batendo palmas sem parar...
O que será que ele está aplaudindo,
se deixou em casa um filho doente,
uma mesa vazia
um fogão apagado
uma mulher cheia de mágoas?
Pobre palhaço!
carregando um coração destroçado
ele domina o picadeiro pra ganhar o seu pão
Que alma linda tem o palhaço!
Esquece seus problemas e aplaude a multidão,
que nem imagina, que atrás daquela cara pintada
tem um homem que não pode chorar,
pra não borrar sua ilusão.

domingo, agosto 14, 2005

Vazio... (Angela Lara)

Vazio é o instante
em que queria teu beijo
e no entanto, o que encontro,
é minha boca muda,
aguardando o momento...
Vazio é o sentimento
que compartilho com o vento,
que farfalha a poesia,
como se fosse minha sina...
Vazio é o olhar
que em tardes de sol,
voa em todas as direções
e mesmo pousado,
já não se sente feliz...
Vazio é tudo que escrevo,
quando não sei das tuas noites,
quando adivinho teus segredos
e neste palco me ensaio
como uma perfeita atriz...

quinta-feira, agosto 11, 2005

OUTROS TERÃO UM LAR, QUEM SAIBA, AMOR...

Outros terão
Um lar, quem saiba, amor, paz, um amigo.
A inteira, negra e fria solidão
Está comigo.

A outros talvez
Há alguma coisa quente, igual, afim
No mundo real. Não chega nunca a vez
Para mim.

"Que importa?"
Digo, mas só Deus sabe que o não creio.
Nem um casual mendigo à minha porta
Sentar-se veio.

"Quem tem de ser?"
Não sofre menos quem o reconhece.
Sofre quem finge desprezar sofrer
Pois não esquece.

Isto até quando?
Só tenho por consolação
Que os olhos se me vão acostumando
À escuridão.

Fernando Pessoa,1920.

DOBRE

Peguei no meu coração
E pu-lo na minha mão
Olhei-o como quem olha
Grãos de areia ou uma folha.

Olhei-o pávido e absorto
Como quem sabe estar morto;

Com a alma só comovida
Do sonho e pouco da vida.

Fernando Pessoa, 1913

CONTEMPLO O LAGO MUDO QUE UMA BRISA ESTREMECE

Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.
O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?

Fernando Pessoa, 1930

VAGA, NO AZUL AMPLO SOLTA

Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.

O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.

AO LONGE, AO LUAR, NO RIO UMA VELA

Ao longe, ao luar,
No rio uma vela
Serena a passar,
Que é que me revela?

Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.

Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica.

Fernando Pessoa, 1921

quarta-feira, agosto 10, 2005

Bem no Fundo

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela - silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Paulo Leminski

AH QUANTA MELANCOLIA!

Ah quanta melancolia!
Quanta, quanta solidão!
Aquela alma, que vazia,
Que sinto inútil e fria
Dentro do meu coração!
Que angústia desesperada!
Que mágoa que sabe a fim!
Se a nau foi abandonada,
E o cego caiu na estrada -
Deixai-os, que é tudo assim.

Sem sossego, sem sossego,
Nenhum momento de meu
Onde for que a alma emprego -
Na estrada morreu o cego
A nau desapareceu.

Fernando Pessoa, 1924.

quarta-feira, agosto 03, 2005

Lua adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha


Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.


E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles